Retrato. 1920.

Zina Aita. Retrato. 1920. Óleo sobre tela. 50 x 61 cm. Coleção Particular.

Zina Aita nasce em Belo Horizonte em 1900. Esteve na Itália por seis anos, onde se dedica ao desenho e à pintura nas cidades de Roma, Florença, Milão e Veneza. A exposição de Zina Aita é realizada no Conselho Deliberativo em 1920, dois anos após a fundação da Sociedade Mineira de Belas Artes e, como afirmou Ivone Vieira, é surpreendentemente patrocinada por esta instituição fundada pelo “acadêmico” Aníbal Mattos.

A obra Retrato, pintada com tinta óleo, é a representação de um garoto com face rosada e vestindo boina verde. No lado esquerdo do garoto, ocupando praticamente metade do quadro, nota-se a paisagem de uma cidade, destacando-se algumas construções distantes ao observador. Por que escolher a representação de uma criança tão familiar e não nomeá-la? A pergunta pode ainda ser reformulada: por que essa criança parece tão familiar? Talvez o objetivo tenha sido recuperar o que existe de mais específico em qualquer retrato e, com maior frequência, nos de criança: a familiaridade e o reconhecimento de um passado ausente misturado a outras lembranças que necessitam de provocação para virem à tona.

Para saber mais: VIVAS,Rodrigo. Por uma História da Arte em Belo Horizonte: Artistas, exposições e salões de arte. Belo Horizonte: C/ Arte, 2012. 248 p.

Aníbal Mattos – Jardineiro

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Trecho do livro: Por uma história da arte em Belo Horizonte:

 

FIG. 1: Aníbal Mattos. Jardineiro (Descanso do Colono), 1915. Óleo sobre tela. Coleção Particular.

 

A obra O Jardineiro [FIG. 1] representa um trabalhador segurando uma enxada com a mão direita e com o seu braço esquerdo apoia-se na perna, sentado em um banco. Entre as árvores existe um caminho que leva a uma pequena casa ao fundo que demarca a distância entre o primeiro plano, o trabalhador, e o segundo plano, a casa. O jardineiro assume uma postura demasiadamente rígida para representar um momento de descanso. A pose rígida não coincide, entretanto, com o rosto. O jardineiro está com os olhos entreabertos fumando um cigarro. Entre os pés do personagem é possível notar o que parece ser um maço de cigarros com uma caixa de fósforos. Apesar de sentado não abandona seu instrumento de trabalho: a enxada firme com a mão direita. O descanso como uma continuidade do trabalho parece coincidir com outras representações como de Almeida Júnior na obra O caipira picando fumo [FIG. 2].

O “caipira” de Almeida Júnior está enquadrado pelo sol. Esta atividade a qual se dedica poderia ser realizada à sombra, mas o trabalhador parece não se incomodar com a alta temperatura. O trabalhador de Almeida Júnior prefere o sol para a realização de atividade cotidiana como um ritual, basta observar o número de palhas que se acumulam ao chão. Enquanto em Almeida Júnior o movimento é de concentração em Mattos o trabalhador parece imóvel, estático assim como a natureza ao seu redor.

O sol é o grande personagem deste “Caipira Picando Fumo”. (…) Prensada entre a sombra do telhado ao alto e a das folhagens no canto inferior direito, a região de luz funciona como uma estufa. E então fica difícil não associar a desolação da cena à intensidade do clima. (NAVES, 1996. p.137).

Na interpretação de Rodrigo Naves o “sol no meio do caminho” simbolizaria as dificuldades para os teóricos do século XIX, contaminados pelas explicações raciais, aceitarem uma civilização constituída nos trópicos.