Composição em Preto nº1. 1964.

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Jarbas Juarez. Composição em Preto nº1. 1964. Óleo, tinta automotiva e colagem sobre tela, 130 x 98 cm. Acervo do Museu da Pampulha, Belo Horizonte.

Especificamente sobre essa pintura, o artista informa que decidiu mudar os rumos de sua produção acompanhando os acontecimentos da década de 1960. Juarez teve a ideia quando descia a Avenida Antonio Carlos, em Belo Horizonte, e chovia muito. Ele teria visto no chão da avenida “uma forma bonita, causada pelo óleo dos carros. Então pensei: vou usar tinta automotiva e ver o que vai dar. Comecei a experimentar com tinta-óleo, fazendo texturas e colagens com papelão”. (JUAREZ, 2003, p.16). Jarbas passa a utilizar a tinta automotiva, devido a sua característica estética e elabora “colagens usando a tinta e tiras de papel higiênico e papelão”. (JUAREZ, 2003, p.16). O uso do preto e cinza cumpria o objetivo de estabelecer uma conexão com o “luto diante de nossa situação política”. (JUAREZ, 2003, p.16).

Para elaborar esses trabalhos, é necessário colocar jornal no chão e uma tela por cima. Juarez pintava em pé, interferindo nas colagens. Nessa época, ele morava com um artista, também premiado no SMBA, Eduardo de Paula, e usava um pedaço da sala para pintar. Se comparada às paisagens mineiras, Composição em Preto nº1 promove uma mudança. Alguns aspectos de Juarez apresentam-se mais previsíveis como a divisão da imagem em retângulos e círculos. O artista define, ainda, a obra por campos de experimentação, ou seja: percebe-se, então, um espaço para a pintura gestual e outros campos da composição para o exercício da colagem.

Para saber mais: VIVAS, Rodrigo. A vanguarda passou por BH: o mito da irradiação e ressonância. V.13 no1/janeiro-junho de 2014 [2015]

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É importante notar que a percepção do artista, atenta às referências visuais do espaço urbano, conduz à busca de materiais para alcançar a visualidade semelhante dos elementos desse mesmo espaço urbano, como é o óleo dos carros durante a chuva. A tinta automotiva – que é uma tinta esmalte com alta densidade, o que acentua seu poder de cobertura – em seu processo de secagem resulta numa plasticidade que chama atenção dos artistas pelo seu poder de adesividade e também pelo seu manuseio menos fluido e com escorrimento conduzindo aos gestos livres . Em seu processo de experimentação, Jarbas Juarez não deu prioridade ao uso da tinta automotiva, continuou a utilizar a tradicional tinta a óleo como fundo de toda sua pintura, recobrindo uniformemente o branco da tela e disfarçando levemente a sua textura, que ainda fica aparente por ter utilizado uma camada ligeiramente fina.

Na pesquisa pictórica e plástica de Jarbas Juarez, percebe-se este planejamento da estruturação compositiva da obra. Ao analisarmos o título, Composição em Preto nº1, podemos notar uma provável insinuação de um convite do artista ao observador para compreender a obra como exercício de formação de composições pictóricas, aspecto comum nos cânones tradicionais da pintura.

Para saber mais: SANTOS, Nelyane Goncalves; VIVAS, Rodrigo. A história da arte de Belo Horizonte a partir de obras dos Salões Municipais entre 1964 e 1968. 2014. 165 f. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Belas Artes.

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