Guerra é Guerra — Vamos Sambar. 1968.

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Teresinha Soares. Guerra é Guerra — Vamos Sambar. 1968. Série Vietnã. Técnica mista. 116 x 150 cm Acervo do Museu da Pam- pulha. Belo Horizonte.

A obra Guerra é Guerra – Vamos Sambar é composta por uma base vermelha em que se desenvolvem duas narrativas. Enquanto a base vermelha é realizada com tinta, as duas narrativas são feitas com relevo em madeira.

Na primeira narrativa, à esquerda do quadro, há três subdivisões nas cores: amarelo, preto e branco. Essas subdivisões aproximam-se da re­presentação de frames de cinema, sendo que apenas a do meio, apesar de também fragmentada, pode ser vista em sua integridade. A sensação é a de acompanhar a movimentação de um negativo que torna a cena mais visível, à medida que encontra o ângulo de visão do observador.

Soares não utiliza apenas fragmentos de imagens para construir a ideia de frame. Coloca, também, inúmeros relevos de madeira para re­presentar as perfurações, geralmente situadas nas extremidades do filme, que são usadas para prendê-lo á máquina fotográfica.

A noção de movimento é construída tanto nas superfícies em alto-relevo dos desenhos em madeira, como também nas variações das core«: preto, amarelo e branco. Soares consegue reproduzir o efeito provoca­do quando se olha um negativo contra a luz e as imagens são formadas à medida que a luz atravessa o material. Mas o que é possível ver nesse movimento do filme contra a luz? E por que a artista exige tanto esfor­ço do espectador? Por que a imagem não pode ser “revelada”? Talvez porque o evento exija discrição. A cena retrata alguns corpos espa­lhados pelo chão, enquanto um homem retira um deles da cena com uma maca. É necessário, então, que o evento ocorra sem que possa ser “revelado”. O homem responsável por transportar a maca é apresentado apenas no essencial que caracteriza sua função: suas pernas em movi­mento e o braço que transporta a maca.

Enquanto na primeira narrativa tudo parece se omitir, na segunda, há uma super exposição. Também subdivido em três quadros, o movi­mento é construído não mais nas oposições entre branco e preto, mas com as cores verde, amarelo, azul e branco. As cores da bandeira do Brasil são fartamente distribuídas na tela, criando a movimentação e a expressividade das formas: rostos, peitos, nádegas e sorrisos ocupam a cena. Se antes não era possível ver o rosto dos agentes, agora os mes­mos são representados em close. Mas o que une duas narrativas tão distintas? Ambas emergem da mesma base: o vermelho, que parece simbolizar tanto a paixão como o sangue. Mas não parece existir con­tradição, pois ambos parecem pertencer à mesma esfera de significado.

Para saber mais: VIVAS,Rodrigo. Por uma História da Arte em Belo Horizonte: Artistas, exposições e salões de arte. Belo Horizonte: C/ Arte, 2012. 248 p.

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