Residência Viaduto das Artes (2017)

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A imagem pode conter: textoInício da Residência do Viaduto das Artes – 20 de fevereiro de 2017.

 

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Matéria sobre Residência – Jornal ao Tempo – 

PUBLICADO EM 08/04/17 – 03h00

http://www.otempo.com.br/divers%C3%A3o/magazine/arte-e-ocupa%C3%A7%C3%A3o-no-baixio-1.1458187

 

Arte e ocupação no baixio

Artistas participantes do programa Residência Viaduto expõem obras atravessadas qpelo ambiente urbano do Barreiro

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Acaso. Trabalho de Fernanda Fernandes explora fissuras a partir da arquitetura do viaduto
PUBLICADO EM 08/04/17 – 03h00

Embora o Barreiro tenha cerca de 300 mil habitantes e alguns centros culturais, para ter contato com as artes, em especial, as artes visuais, os moradores da região precisam atravessar a cidade e chegar aos polos centrais de Belo Horizonte.

Foi a partir dessa percepção que Leandro Gabriel, morador da região e escultor, deu início à criação do projeto Viaduto das Artes. Ainda em 2006, ele fez uma ocupação no baixio do viaduto Engenheiro Andrade Pinto e, desde então, buscou na prefeitura a viabilização de um projeto de ocupação urbana e artística para o espaço. “Hoje, todos os viadutos de BH podem ser ocupados para fins sociais, culturais e esportivos”, lembra Leandro.

A concretização da proposta de Leandro, no entanto, só foi possível em 2016, quando o viaduto ganhou outros ares. Hoje ele abriga uma biblioteca, um ateliê de escultura, fotografia e pintura, uma galeria de artes e um jardim de esculturas. “Aqui temos toda estrutura de um ateliê e oferecemos para o artista um espaço de criação e de exposição, sem visar o lucro. Nosso interesse é viabilizar formas de criação e de acesso à arte”, afirma o fotógrafo Daniel Moreira.

É neste espaço que será aberta hoje uma exposição resultado do programa Residência Viaduto, viabilizado pelo Descentra Cultura 2016, um edital da Fundação Municipal de Cultura. Por meio de uma seleção pública, três mulheres artistas foram selecionadas para participar de uma residência no viaduto ao longo do período de um mês.

À Jade Liz, Karine Felipe e Fernanda Fernandes, juntou-se Efe Godoy, artista convidado pela organização a integrar o programa. Além da curadoria, Sérgio Vaz, professor da Escola Guignard, e Rodrigo Vivas, professor da Escola de Belas Artes e diretor do Centro Cultural UFMG também acompanharam a residência, dando orientações aos participantes nos processos individuais de criação.
“Minha função, como teórico, era provocar o descentramento. O acompanhamento foi feito a partir de uma problematização. Todos eles vieram com um portfólio pronto, mas não era isso que interessava. Era preciso descentralizar e desconstruir os pontos de vista e gerar a angústia do processo criativo”, conta Rodrigo.

Vivência. A princípio, não havia nenhum projeto preestabelecido e nem mesmo um tema determinado, mas a vivência na região acabou por afetar os artistas que foram atravessados por uma paisagem urbana específica do Barreiro. “Estamos girando em torno desse ambiente que é um lugar de passagem. É um espaço especial para conhecer porque é um viaduto ativado. Para essa galeria, saímos do centro e viemos para este espaço. Aqui, somos quase um viajante. Estamos em BH, mas aqui é outra cidade, e isso é algo que nos atravessou, a sensação de estarmos fora do nosso habitat”, comenta Efe.

Ele, por exemplo, inicia sua obra a partir do ribeirão Arrudas, que tem uma de suas nascentes no Parque das Águas. “Estou buscando mergulhos e desejos de nadar num rio que é praticamente nosso esgoto”, conta Efe, também músico da banda Absinto Muito. Ele construiu um micróbio gigante, com roupas preenchidas por espumas e criou uma fabulação em torno das questões ambientais. “É uma narração com música em que falo desse bicho enorme que consegue produzir uma gota de água limpa”, conta o artista, observando desejos e esperanças de que a limpeza do rio, de fato, aconteça.

Motivadores. Foi também no Parque das Águas e na atmosfera do Barreiro que Karina Felipe encontrou os motivadores dos três trabalhos que apresenta na exposição. “Meu processo criativo está ligado à natureza. Quando eu entrei no centro urbano do Barreiro, com lojas, muito barulho, grades, eu saí da minha zona de conforto e caí num lugar desconfortável. Fui trabalhar, então, nessa dualidade, entre a liberdade e a prisão, o espaço do enclausuramento que marca a cidade”, conta.

Um dos trabalhos que ela apresenta é um site specific com cerca de 1.500 mudas de alpiste, instaladas do lado de fora da galeria. Já do lado de dentro, ela apresenta uma vídeo arte com passarinhos presos. Karina também vai espalhar pela região um lambe- lambe com a imagem de um curió aprisionado, ave ameaçada de extinção que está presente no Parque da Águas.

Caminhando pelas ruas da região, Jade Liz encontrou referências que atravessaram sua obra. “Eu estava em busca de algo que remetesse à fazenda antiga que serviu de subsistência para a criação de Belo Horizonte, com mão de obra, matéria-prima. Encontrei palhas de milho, o que me trouxe várias símbolos. A fazenda produzia milho, alimento que para os índios mexicanos é o sustendo da vida. Criei um ambiente, como se fosse um museu, e apresento três trabalhos, com montagens de fotografia do Barreiro dos anos 50 e 60, bordado e esculturas. As palavras que regem são desenvolvimento, sustento da vida, história”, conta.

Já a formação de Fernanda, que vem também da arquitetura, a levou para o diálogo com a estrutura do próprio viaduto, em uma pesquisa de objetos e pinturas que exploram as fissuras, os rompimentos, aquilo que escapa, o acaso.

FOTO: VIADUTO DAS ARTES/DIVULGAÇÃO
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Efe Godoi. Artista cria instalação e narrativa musical a partir do desejo de nadar no Ribeirão Arrudas

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Processo da Residência artística