Cândido Portinari. Preto (Cabeça De Negro), 1934. Óleto sobre tela. 70 x 50 cm. Coleção particular, RJ.
Preto representa um negro no primeiro plano, posicionado diagonalmente em relação à paisagem. Acredita-se ser uma representação neutra, sem valorizar traços de personalidade, sem heroísmo, força, marginalidade ou opressão. O posicionamento da figura assume um papel fundamental na produção da distância entre figura e paisagem. O direcionamento do olhar do negro cria uma correspondência com as linhas de ponto de fuga construídas pelos postes que conduzem até ao fundo do quadro ou internamente à paisagem. O mesmo acontece com as cercas que também atuam na construção da noção de espaço.
Assim como ocorre com o negro, a paisagem também é neutra. Contém os elementos mínimos característicos de qualquer panorama brasileiro, assumindo, assim, um apelo universal.
Um único elemento produz uma relação emotiva com a tela, no caso, a imobilidade do olhar do negro coincide com o efeito produzido na paisagem: uma pequena igreja ao fundo, pássaros que descansam nos fios de energia elétrica e os urubus congelados no céu, parecendo utilizar o equilíbrio térmico para se manterem inertes.
A sensação de imobilidade perante a distribuição das figuras no espaço figurativo da tela está indissociável das percepções das cores e da conformação do espaço. No caso específico de Preto, a repetição das tonalidades na camisa, na gola da camisa, na estrada, na montanha, nos postes, no telhado da casa e no céu reforça tal compreensão.
Para saber mais: VIVAS,Rodrigo. Por uma História da Arte em Belo Horizonte: Artistas, exposições e salões de arte. Belo Horizonte: C/ Arte, 2012. 248 p.