Painel Central. São Francisco se despojando das vestes, 1944.

Portinari. São Francisco se despojando das vestes, 1944.

Portinari realiza o painel central ao fundo do presbitério da Igreja São Francisco de Assis. Um caminho interpretativo relevante é o confronto com a série de estudos que Portinari fez até o resultado final ora apresentado. Portinari realizou inúmeros estudos que foram modificados no processo de organização da cena. Como foi demonstrado, os estudos iniciais se aproximam do tema tal como foi representado por Giotto na basílica de São Francisco como também nos artistas Domeni­co Ghirlandaio em 1483-1485 e Benozzo Gozzoli em 1452. Apesar de a iconografia da Renúncia dos bens se manter sem grandes alterações, também em artistas como Domenico Ghirlandaio em 1483-1485 ou Be­nozzo Gozzoli em 1452.

Na Renúncia dos bens é possível notar a separação entre dois grupos: de um lado, os parentes furiosos pela renúncia dos bens familiares, do outro, um grupo de membros da Igreja. À direita, possivelmente o pai de São Francisco, um homem segura as roupas e necessita ser contido para que não avance no santo. O santo nu é coberto por um membro da Igreja que parece protegê-lo. A diferença da narrativa está em Giotto, em que o santo, mesmo com um conflito iminente, desloca seu olhar para o alto, onde é possível enxergarmos uma mão que sai do céu. Na interpretação de Giotto, após São Francisco renunciar aos seus bens a aceitação divina, representada pela mão projetada no céu, é visível apenas para o santo. Pode-se dizer que Giotto oferece ao espectador um ponto de vista privilegiado, pois também somos convidados a con­viver com tal experiência religiosa.

Le Goff informa que São Francisco procura refúgio no bispo, que se torna uma testemunha responsável e protetora. Aproxima-se do pai que está “espumando de raiva” e cumpre o ato solene que marca a “ruptura com sua vida anterior e que o torna livre”. Renuncia “a todos os seus bens, depois se despe inteiramente e, nu, manifesta seu despo­jamento absoluto”.

A identificação do painel central não é carregada de grandes difi­culdades, mas Portinari acrescenta outros elementos à cena, que não é tradicional na iconografia do Santo. Para Teixeira, à esquerda da obra estariam representadas: Santa Clara, ajoelhada e com as mãos estendi­das em direção a São Francisco, e Beatriz, assentada com o braço levan­tado sobre a cabeça. Na parte direita da obra, um grupo de pessoas com um leproso e membros das Ordens Primeira e, mais atrás, da Terceira.

Para saber mais: VIVAS,Rodrigo. Por uma História da Arte em Belo Horizonte: Artistas, exposições e salões de arte. Belo Horizonte: C/ Arte, 2012. 248 p.

Deixe um comentário